Caminho da Ilha com Calma – 4ª etapa

Físico doído, mente em festa

Do ônibus a gente tem uma visão diferente da paisagem urbana e vê o que passa despercebido, quando se dirige. A Lagoa é realmente “formosa, ternura de rosa, poema ao luar”, seja vista do alto do morro, da avenida das Rendeiras ou no sobe e desce até a Barra.

Chegamos. Exercícios e oração feitos, lá foi o grupo rumo à Praia dos Ingleses. As pessoas iam se apresentando, se conhecendo, trocando idéias. Alguns com bastões de caminhada (tic-tac!, tic-tac!), outros com cajado (TOC! … TOC!), outros de mãos abanando.

A maré estava baixa e a areia firme. A Praia da Barra é curta, a do Moçambique é enorme. Mas, a caminhada estava fácil e tranquila. Íamos num bom ritmo. Aos poucos, a maré foi nos empurrando para cima, para a areia mole e pesada de andar. Subimos para o parque florestal e paramos para descansar e fazer um rápido lanche. Momento ideal para fotos de grupo e conversa descontraída.

Refeitos, continuamos. Sem demora, saímos da trilha da mata e iniciamos o trecho de estrada. Por sorte não havia vento e o sol estava entre nuvens. E a temperatura, agradável para nosso lazer. As pessoas se alternando em busca de novas conversas e novas amizades. Bastões e cajados dando o ritmo da caminhada (tic-tac! TOC!).

Bem lá adiante, dobramos à direita, em direção à praia. Novo descanso. Maior, que era hora de almoçar o lanche principal, de mais “sustança”. Alguém quer um pouco? Eu tenho disso ou daquilo, mas… Tá legal, eu aceito. Não, estou de regime. Deixa disso, é preciso repor energia. Lembrem dos líquidos, é importante. Por falar nisso, onde é o banheiro? “Al campo, peregrino!”. Ai, ai, ai…

Dessa vez, foi mais difícil levantar e continuar a caminhada (Ah, que vontade de tirar um cochilo!). Seguimos pela praia num trajeto curto até o sopé do Morro das Aranhas. Aí, a moleza acabou: degraus maiores que as pernas, pedras lisas e úmidas, charcos de afundar os pés… (Eca!) Esforço, muito esforço! Respiração difícil, coração acelerado. Ânimo, logo a trilha melhora. Propaganda enganosa: foi um sobe e desce sempre difícil. Eu não aguento mais! Descansa um pouco. Respira fundo e segura um pouco. E o grupo se desfazendo. Quem era acostumado, seguiu. Quem teve dificuldade, foi ficando, sempre ajudado e estimulado. Segura aqui. Pisa ali. Calma, não tem pressa. Dá a mão, que eu apóio. Só este trecho é difícil, daí a pouco chegamos…

Mas a paisagem… Uau! A cada tanto, um novo cenário: costões rochosos, ilhas ao longe, ilhas próximas, uma ilha, duas ilhas, três ilhas: um arquipélago. O mar batendo forte na rocha, a água espumante numa explosão de vida. O vento chegando de mansinho, mas frio. O céu nublado, mas claro. Boa visibilidade. Até longe, muito longe. Tão longe quanto o pensamento. Terra-mar-ar belos de se contemplar…

Com o físico doído e a mente em festa, chegamos à Praia do Santinho. Praia pequena, se comparada à Moçambique. Na pressa de chegar, logo acabou. Viramos à esquerda, nos embrenhamos pelas dunas e, em pouco tempo, chegamos à Praia dos Ingleses. Maré alta, praia curta, trajeto curto. Na igrejinha do bairro já nos esperava o ônibus.

Mais uma etapa vencida. Vencida? Não, saboreada! Tem coisa melhor que saborear aos poucos, com calma? Assim é o Caminho da Ilha.

Inácio Stoffel


Fotos: Maria Pesavento Pereira

Detalhes do Evento