Sob o sol de um inverno

02 de agosto de 2014

Dizem alguns que os invernos foram feitos para os seres viverem um breve tempo de introspecção voltados para o aconchego de suas moradas abrigados do frio, criando raízes internas de sossego, de refazimento das energias.

Outros pensam o oposto. Pelo menos para aqueles que moram nos trópicos é o melhor período para celebrar a vida fora de casa com uma bela caminhada composta por paisagem junto à natureza, entre tantas opções a clicar no menu da tela do planeta azul.

Um grupo de 67 viventes escolheu a opção caminhar. Entre eles, 25 corações já batiam no ritmo de preparação para o Caminho de Santiago de Compostela, capitaneados pelo peregrino 14, Guido Becker, o preparador da logística do trajeto a ser percorrido na bucólica região de São Pedro de Alcântara e Antônio Carlos em parceria com a Associação Catarinense dos Amigos de Santiago de Compostela.

O dia do sábado que iniciava agosto apresentou-se com uma cara linda, cheinho de sol e luminosidade própria feito uma aquarela do Criador.

De Florianópolis até São Pedro de Alcântara, a primeira colônia alemã do estado de Santa Catarina, às margens do Rio Imaruí, dois ônibus conduziram com precisão os entusiasmados caminhantes.

São Pedro que faz parte da Grande Florianópolis e está a 32 quilômetros dela , é conhecida por sua produção de hortigranjeiros e derivados da cana, principalmente a cachaça artesanal de alambique.

Depois do café no bar do Zezo, a foto na escadaria da linda Igreja no topo da colina tentava abraçar todos os participantes da caminhada, em vão.

E deu-se a partida.

O panorama foi descortinando cascatas, cachoeiras, casarões antigos, jardins floridos, plantações de verduras, moinhos de água, gado, eucaliptos cheirosos, palmeiras e pinus. Ao som das alegres vozes peregrinas somavam-se os cantos de pássaros pelas subidas e descidas das colinas características dessa região da Mata Atlântica. Uma foto aqui, outra acolá, um alambique aqui, outro acolá…

Logo se chega a Antônio Carlos, outro município de Santa Catarina.

Uma clicada na história de Antônio Carlos diz que em 1828 os primeiros imigrantes alemães de Santa Catarina desembarcam no Rio de Janeiro. Partiram depois para o Sul do Brasil, Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis.

Mas foi no dia 1º de março de 1829 que os imigrantes alemães fundaram a primeira colônia alemã de Santa Catarina, São Pedro de Alcântara. Como a terra não era fértil para a colheita, os imigrantes decidiram migrar para outras localidades do Estado, como: Antônio Carlos, Angelina, Blumenau, Pomerode e Águas Mornas.

Em 1930 foi fundada a colônia de Antônio Carlos. Alemães comandados por João Henrique Schöeting, desbravaram a planície do Rio do Louro, no alto Biguaçu, e deram início a efetiva colonização das terras que viriam compor o município.

Foram dez famílias que iniciaram a colonização, primeiro no Louro e mais tarde em Santa Maria e Rachadel. Mas antes da chegada dos alemães nestas localidades, portugueses e negros já habitavam a região.

Em 1963 foi criado o município de Antônio Carlos, desmembrando-se de Biguaçu. Seu nome foi uma homenagem ao estadista brasileiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, político mineiro com grande atuação na Revolução de 30.

Antônio Carlos mantém ainda características marcantes de sua colonização, como: fé e cultura familiar, culinária, dialeto e a arquitetura germânica dando mais charme para o município.

Pronto. A curiosidade em saber o porquê do nome da cidade e sua história ficou satisfeita.

Mais um pouco, chega-se à localidade de Santa Maria, distrito de Antônio Carlos, na centenária Adega Scherer, onde o proprietário e sua família aguardavam o grupo de caminhantes para o almoço. Que almoço!

Comida caseira, torresmo, recheio de galinha, costela, muita cerveja e como não podia faltar, muuuuita pinga!

A Adega tem produção de cachaça envelhecida, de padrões internacionais. O visitante pode comprar o produto, visitar a adega e conhecer sua produção de schnaps.

A destilação é feita de maneira artesanal, em clássico alambique de cobre, com serpentinas de condensação em material inerte, como fazem ainda hoje as melhores destilarias de Malt Wiskys da Escócia. A cachaça passa por um acurado controle de qualidade e descanso por seis meses em tonel de madeira e segue para seu repouso em barris de carvalho europeu e americano, onde permanece por alguns anos. Após um tempo mínimo de 4 anos de solene repouso em barris de carvalho, a aguardente produzida pela Adega Scherer segue para engarrafamento. Há ainda a cachaça branca maturada por 1 ano em toneis de araribá. Ela é 80% bidestilada com sabor leve e vigoroso, característico dos melhores destilados produzidos em todo o mundo.

Logo à entrada do lugar destinado à refeição, barris com toda essa maravilha ofereciam-se aos apreciadores através das suas inesgotáveis torneirinhas.

Ainda antes do almoço, o fato marcante foi a entrega das Credenciais aos futuros peregrinos, logo após os pronunciamentos da Diretoria da Acacsc, oração e agradecimentos.

Um delicioso café com cuca e rosquinha de polvilho pronunciaram-se como sobremesa, sinalizando os momentos finais do encontro preparatório para todos aqueles que peregrinam a Santiago de Compostela.

Que seus corações possam ser iluminados com alegria verdadeira a cada passo percorrido no Caminho!

Lígia Maria Knabben Becker


Fotos: Catarina

Detalhes do Evento