Caminho Sagrado – Um relato pelo meu olhar peregrino (Selma Kovalski)

 

Caminho Sagrado – Um relato pelo meu olhar peregrino (Selma Kovalski)

Antes de iniciar esta narrativa, é preciso dizer que cada vez mais novos caminhos estão sendo desbravados no Brasil, permitindo assim que peregrinos, caminhantes, mochileiros, etc., descubram muitas belezas naturais, muitos recantos e ainda, possam interagir com moradores por locais onde estes caminhos passam, possibilitando assim, aprender também sobre os costumes e a cultura local.

E desta forma, hoje o destaque vai para um caminho relativamente novo, mas que já surpreende pela beleza e pela riqueza que o caminhar nos traz. Vamos falar sobre o Caminho Sagrado, inaugurado em abril de 2022.

Fica localizado na região sul do país, em Santa Catarina e podemos nos orgulhar de poder apresentar mais uma linda opção para peregrinar. Caminho este que está em constante evolução, vivo, em movimento e que foi idealizado e está sendo mantido por voluntários, perfazendo um circuito de aproximadamente 175 quilômetros. As pousadas e pontos de apoio que o caminho oferece estão também em uma crescente e já possibilitam que o peregrino possa descansar com tranquilidade após a conclusão dos trechos diários.

A partida, ou marco zero, inicia-se em Criciúma, zona rural, num local de extrema beleza e espiritualidade chamado Oikos. Lá o peregrino recebe o Salvo Conduto, credencial que pode ser carimbada nas pousadas, hotéis e pontos de apoio do caminho. No final, ao completar o percurso recebemos o Júbilo, documentando o caminho percorrido.

A partir daí, o caminho vai passando pelos municípios de Nova Veneza, Treviso, Urussanga, Azambuja, Morro da Fumaça, Içara, retornando ao ponto de partida, totalizando sete dias. O percurso também atravessa as cidades de Siderópolis, Treze de Maio e Forquilhinha.

E foi com o intuito de mais um peregrinar, em outubro de 2022, que um grupo organizado pela ACACSC partiu de Florianópolis para caminhar neste local que mesmo sendo tão recente, já está sendo conhecido e divulgado para que cada vez mais novos caminhantes desfrutem desta maravilhosa experiência. O caminho está bem sinalizado, as setas ainda tem cores diferentes (vermelho, branco, ocre) e também placas escritas com palavras que levam o peregrino a reflexões. (Quando peregrinamos, o fim é o próprio meio. Quando caminhamos, o destino é o caminhar. (Beto Colombo).

A chegado no Oikos já mostra que o caminhar será surpreendente, pois o acolhimento que temos ao adentrar no Oikos doce Oikos (ou lar doce lar) é o melhor possível, com a recepção do casal de hospitaleiros, que abre as suas portas (e os seus corações) para contar um pouco da sua história , mostrar as incríveis transformações pelas quais o local passou desde que resolveram mudar de vida e assim fazendo, mudar todo o seu entorno recuperando o meio ambiente, respeitando o que a mãe natureza pede.

Pernoitando na Oikos a caminhada inicia com um trajeto de 18km até chegar em Nova Veneza, um trecho relativamente fácil pois a quilometragem é baixa, começando de uma forma bastante tranquila, trecho com muita estrada de chão, alguma subida (consequente descida também) e o destaque vai para as famosas casas de pedra, já chegando em Nova Veneza, que são casas para visitação, com mais de 120 anos e que estão tombadas como Patrimônio Histórico Nacional e Patrimônio Arquitetônico do Estado de Santa Catarina. Outra grande atração, já dentro da cidade, é a famosa gôndola que fica no centro e foi um presente do Governo Veneto, como forma de aproximar os laços entre Veneza, na Itália e Nova Veneza, no Brasil!! Vale o registro fotográfico nesta gôndola. (trecho 1)

De Nova Veneza o caminho segue até Treviso, 28 quilômetros, num belo trecho rural com baixa altimetria e muitas belezas naturais. Pelo caminho avistamos muitas placas com dizeres já comentados no início deste relato. (trecho 2)

No terceiro dia, de Treviso até Urussanga o caminho é um pouco mais árduo, pois são 30km com subida íngreme logo nos primeiros quilômetros, trilha com pedra (lama também caso tenha chovido), porém de grande beleza natural. Riachos, muitos animais nos pastos, parada estratégica para alimentação numa vinícola, com recepção super amável dos proprietários. Com cansaço, mas alegria pelo trecho vencido, lá se foi mais um dia. (trecho 3).

Saindo de Urussanga, no quarto dia o caminho segue até Azambuja, totalizando 25 quilômetros, um trecho belíssimo, que amei fazer, com muitas plantações, muita área verde, sendo que em alguns pontos ouso dizer que se assemelha muito com o caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. Muitas árvores frutíferas, igrejas que valem a pena registrar e locais cheios de espiritualidade. (trecho 4)

No quinto dia a saída é de Azambuja até Morro da Fumaça, um trajeto de 30 quilômetros, com algumas subidas e descidas, estrada de chão, plantações, muitas áreas verdes e outras nem tanto, mas vale lembrar que a beleza está dentro do olhar de quem contempla o que encontra pelo caminho. Procure observar a estrada…em vários pontos se enxerga claramente o S de sagrado. (trecho 5)

E no sexto dia já vai batendo uma certa nostalgia, porque sabemos que estamos nos aproximando do início, que é também o fim da caminhada. Este é um trecho curto, de 19 quilômetros, saindo de Morro da Fumaça até Içara.  Temos por aqui muita estrada de chão, muita plantação (destaque para o fumo). Por um bom trecho caminhamos ao lado da estrada de ferro e até foi possível ouvir ao longe o apito do trem. (trecho 6)

E o caminho vai se finalizando com a etapa de Içara até Criciúma (Oikos) com 26 quilômetros em estrada de chão, trecho rural, poucos quilômetros de asfalto.  A chegada é sempre com emoção, recebidos com muito carinho pelo casal hospitaleiro, preparando um merecido escalda pés com ervas locais, com um ingrediente especial, que é o amor. (trecho 7)

Não poderia encerrar de forma melhor…. e para concluir o relato sob meu olhar peregrino, quando um caminho termina, este terminar não é o fim e sim o recomeço…e o começo…e assim seguimos caminhando.